| sex., 7 de mar., 20:10 (há 3 dias) | |||
|
*Vira-latas*
O Carnaval é alegria. O Carnaval é fantasia. No Carnaval tem bateria. No Carnaval muita gente cai. No Carnaval muito folião vai atrás do bloco, do trio elétrico, da emoção de uma serpentina, da chuva de confetes. Isto é bom e faz o povo esquecer o custo de vida, a carestia, as dificuldades do dia-a-dia.
No entanto, há outro momento onde o povo esquece as agruras da vida. Falo da Copa do Mundo, onde todas e todos, mesmo os que não gostam de futebol, se irmanam, parece a balança da igualdade. A multidão olha ao lado e há uma só identidade, um DNA semelhante, coisa de irmã, de irmão.
No último domingo de Carnaval aconteceu outro instante aglutinador do brasileiro. Em meio aos blocos, a folia na rua; entre tantos abadás; debaixo das purpurinas, das lantejoulas, das fantasias; um brado ecoou na multidão, irmanando todos em euforia. Todos torceram pela Fernanda Torres, pelo filme “Ainda estou aqui”, na disputa do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Califórnia.
Apesar de gostar e entender a força do cinema em nossas vidas, acho que as classes médias e ricas brasileiras se ajoelharam. Elas mostraram a face de cachorro “vira-lata”, como dizia Nelson Rodrigues. Isto porque se portaram como se tivéssemos vencido uma Copa do Mundo, com o filme premiado do Walter Salles.
Consultando o amigo D’Olho ele me disse:
_— E daí, cronista? Que mal tem isto? Deixe o “povo” extravasar sua alegria como um bonde descarrilhado._
_— Espera aí!_ – disse eu – _Não é nada disto. Não me entenda mal. Digo que este prêmio, mesmo justo, diante da qualidade do filme, não deveria enlouquecer a multidão, como se tivéssemos ganho mais uma Copa do Mundo no futebol._
_— O que há, meu caro. Estás com ciúmes?_ – interviu D’Olho.
_— Não!!! Definitivamente, não._
_— Você parece o pierrô que não foi convidado para o baile._
_— Espera lá! Não sou o cachorro que caiu do caminhão de mudança._
_— Esqueça, meu caro. Tudo é Carnaval. O “povo” comemora a sua alegria e solta serpentinas até em vitórias de porrinha. Este é o espírito do brasileiro._
_— Está bem. Agora sim, admito, como classe média que sou, a condição de vira-latas, mas o povo que anda de trem, de metrô, de ônibus, nada tem a ver com isto. Ele não é vira-latas, como eu. Admito, somos vira-latas sim, mas só no Carnaval, D’Olho. Veja bem: somente no CARNAVAL!!!_
Comentários
Postar um comentário