Carta ao amigo

 

Carta ao amigo

 

                                                                                                           por tonicato miranda

                                                                                                               Curitiba, 24.11.2024.

 

 

        Recebi do amigo Cascaes um pensamento. Confesso não sei se é dele ou de outro autor. Entretanto, aproveito a reflexão dele para tentar arrumar ‘uma coisa mal parada’ no meu relacionamento com outro amigo.

 

        ”O pior desejo de qualquer ser humano, / comunidade, nação ou povo é o de vingança. / Isso perpetua conflitos / machuca ou destrói a todos”.

 

        Por mais de vinte anos estive afastado de uma amizade que prezava muito. No entanto, há cerca de cinco anos retomamos nosso convívio, por diversas razões. Não cabe detalhar aqui o porquê. Apenas afirmo que temos pontos nos quais temos pensamentos próximos, na política, seja na Literatura. Embora há discordâncias de estilo, de posicionamentos, no modo de nos posicionar com ela, a grande dama da escrita.

 

        Sabemos que Dona Literatura, tão garbosa, tão exuberante, cultua colares variados em seu vasto peito, decorando a parte alta dos seus seios. Ela não tem preferências sobre cada colar que ostenta. Apenas os exibe e exige tenham qualidade na forma, no estilo. Assim, a cada ida ao teatro, ou passeio pelos jardins de festas, exibe seu colar de crônicas, de contos, de romances, de críticas literárias. Isto quando não sai com seu colar poético, e nele estão cravejados, como pedras preciosas, poemas monósticos, dísticos, tercetos ou quadras; haicais; cordéis; versos livres; versos derramados; versos decassílabos ou sonetos. Todos estão representados em seus colares poéticos.

 

        Recentemente, atingindo a meta da escrita com certo número de crônicas no ano de 2024, resolvi reproduzir um poema realizado nos tempos de epidemia e enviá-lo ao amigo.

 

        O que aconteceu? – perguntou o amigo D’Olho.

 

        Nem lhe conto. Não quero pareça fofoca ou continuidade da desavença. Deixe quieto.

 

        Deixa de ser murrinha com palavras. Afinal esta carta é pessoal. Ou quer divulgá-la aos quatro ventos, espalhando-a pela Rosa do Ventos?

 

        Jamais. Ela tem destinatário certo, D’Olho. Mas vou contar somente a você. Ocorre que o amigo acha que a poesia é feita apenas com versos curtos. Digressões em meio a poemas podem ser tudo, mas não são poesia. Whitman não escreve poesia, escreve cantos. Fernando Pessoa, quando escreveu o poema _‘Saudações ao Walt’ estava celerado, após um porre de ginginha. E assim vai. Todo poema longo é desperdício. Fazer o quê? É a opinião dele. Também o amigo diz que não gosta de citações em meio a poemas, com nomes. Isto lhe parece desnecessário. Tendo feito um poema dessa maneira, fiquei chateado. Depois, cortei os escritos do celular, é verdade. Mas estou predisposto a voltar atrás e deixar de lado “a vingança” propugnada pelo amigo Cascaes. Em verdade, ela não é vingança, mas mágoa, ou outra coisa. De fato, me senti magoado diante de uma conta do colar dourando os vastos peitos da Dona Literatura. Acha, D’Olho, que fiz errado ao capitular na minha mágoa e escrever esta carta ao velho amigo? Não vou pedir perdão. Não vou assinar um armistício, mas quero conciliação. O que você acha, D’Olho?_

 

        Meu caro cronista e poeta, você faz bem. Hoje é “pé de caximbo”.Não plante frutas em qualquer desavença, senta num banco de praça, o Sol está saindo agora, vale uma boa conversa. O dia _“pede caximbo”, solte as baforadas ao ar. Vá adiante._

Comentários