Mar Aberto

 

Mar Aberto

 

                                                                                                              por tonicato miranda

                                                                                                                 Curitiba, 07.12.2024.

 

        Sentado na sala, com um livro na mão, coloco um vídeo musical enquanto sigo na leitura. As imagens de fundo sonoro me encantam. Então surge uma frase na mente:

 

        — “Nunca se afaste do mar. Caso se afaste, não deixe de visitá-lo uma vez a cada nove meses.”

 

        Pensando na frase perguntei aos meus neurônios – Por que este tempo? Será porque é a duração na formação de um bebê nas barrigas das fêmeas da Humanidade? Quando ela ou ele vai despertar para o mundo como novo ser humano?

 

        Mas voltando à grande massa de água na nossa frente, acho que sempre nasci novamente a cada onda chegando na areia ou à beira-mar. O oceano traz muitas riquezas à alma, ofertando grandes dádivas: o marulho das ondas se desfazendo na areia, trazendo pitadas de sal nas espumas; uma concha rolada aos seus pés, com fragmentos da casa do molusco que já a habitou; caranguejos pequenos correndo como crianças, como caranguejinhos, ainda com as puãs pequeninas; maçaricos com  pernas compridas, caçando com longos bicos o almoço para suas famílias, e logo correm sobre a areia dura para encontrar o que o mar derramou na praia. Também, peixes pequenos pulam numa onda, talvez fugindo de peixe maior querendo comê-los. Tudo isso sempre brota sorrisos na minha boca ao imaginar quão feliz a paisagem e suas mutações elevam nosso espírito, neste banho de felicidade da pintura das areias, das ondas, das pedras e da vegetação bordeando todo o cenário.

 

        Neste momento lembrei do meu tempo de estudante quando fui com uma equipe de Brasília ao interior do Ceará e do Rio Grande do Norte, numa missão do Projeto Rondon. Tinham duas moças goianas no grupo. Depois de ter feito o trabalho em Pereiro – Ceará, também em Pau dos Ferros – Rio Grande do Norte, seguimos para Natal e ali descansamos um dia, antes de retornar à capital federal. Foi então quando uma das moças goianas, que jamais tinha ido à praia, ao ver o mar aberto na sua frente saiu com esta expressão surpreendente:

 

        — “Que açude grande!!! Nunca tinha visto um desse tamanho.”

 

        As duas frases foram seguidas de risos. Não lembro dos comentários depois. Apenas lembro que a moça se afastou dos risos jocosos e foi caminhando pela areia espantada com o tamanho daquele “açude”. Neste instante recordo também de um fato contado por minha companheira de vida, quando levou o avô, vindo de Serra Talhada - em Pernambuco, à Praia de Boa Viagem, no Recife. Ele viu na praia uma mulher com biquini. Impressionado com o corpo da moça, disse à neta:

 

        — “Mulher é bonito!!! É bonito!! Bonito!”

 

        No entanto, maior do que a beleza da mulher, perdoem-me a indiscrição, considero o mar. Ele convida a todos, indistinto de sexo, ao amor. O mar é a beleza fundamental dos continentes, dos marinheiros, dos barcos à vela. O mar anseia por um porto, por pedras para bater e criar mariscos, ou moluscos que gostam do embater das ondas.

 

        O mar, para quem mora perto dele tem pena de pessoas como eu, que estou distante, pois lembro dele apenas em vídeos, nas lembranças da infância ou em férias. Elas, sempre prazerosas, mesmo quando espetei na sola do pé vinte e poucos espinhos de um ouriço zangado.

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