Diz que eu sou uma Cinderela,

 por tonicato mir

                                                                                              Curitiba, 17/18.02.2025.


— Escuta aqui... Quem é você? Você é uma crônica ou um conto? – perguntou o Senhor Alberto Crônica.


Dona Pirando do Conto, titubeou um pouco, mas resolveu responder:


— Claro que sou um conto. Então não está vendo o meu nome?


— Perdoe-me, Sra. Pirando, a minha confusão ocorre porque algumas vezes a senhora nos deixa em dúvida e até se intromete no meu metiê. Trocando em miúdos: entra na minha área de atuação, na área de ocupação da crônica.


 — Acho que o Senhor está sendo indelicado. Se alguma vez misturo um pouco a realidade com a fantasia é um problema de estilo, de criação. Mas saiba, senhor, nunca perco o rumo. O surreal é a base da minha Literatura. Eu sempre procuro...


—...mas a Senhora viaja muito no cotidiano...


— ...espera. Eu não concluí a minha fala. O senhor me interrompeu. Saiba, Senhor Alberto Crônica, sempre procuro deixar ao leitor uma dúvida sobre a realidade ou a mágica da fantasia.


— Está bem. Vamos chamar o Tonicato para prestar mais esclarecimentos.


Eu, Tonicato, agradeço ao Senhor Alberto e à Dona Pirando por me dar a oportunidade de esclarecer o que faço com minha Literatura. Tenho livros de crônicas, como de contos. E se desenvolvo mais o gênero crônica, isto ocorre porque bate na minha porta mais fatos do cotidiano da vida do que da imaginação. No entanto, a porta ou a janela estão sempre abertas para adentrar qualquer uma das duas formas de Literatura. Tenho muito carinho pelos dois gêneros.


Também claro está que as crônicas entram pela porta. De forma diferente, os contos sempre entram pela janela, como ladrões furtivos, semelhante quando um jovem chega atrasado para dormir em casa, após seus pais dizerem mais cedo para ele chegar no máximo às dez da noite. Entretanto, ele sempre chega passando da meia noite. Assim, o conto é sempre uma Cinderela, enquanto a crônica, não passa do horário das novelas da TV. O jovem é costumeiro em perder o horário, tal qual o conto. O capacho da entrada da porta da frente nunca é raspado por seus sapatos. Aliás, ele nem usa sapato quando pula a janela e entra na casa sorrateiro. Nessas horas está sempre descalço, segurando os calçados numa das mãos.


— Espere aí Tonicato, você está dizendo que eu sou uma ladra, que pulo janelas de casa furtivamente? Diz que eu sou uma Cinderela, e que...


— ...nada disso, Sra. Pirando, ele apenas fez comparação entre um gênero literário e outro. Usou a metáfora do rapaz chegando em casa tarde. E também...


—...permita-me. Não sei se entendi totalmente. Mas me diga: este texto que estamos fazendo, em sua opinião, Sr. Alberto, é uma crônica ou um conto?


— Agora não sei mais. Parece um conto, mas também parece uma crônica.


Sabem o melhor desta história? Eu, Tonicato, vou encerrar este texto. Afinal o Sr. Alberto Crônica e a Dona Pirando do Conto começaram a levantar a voz. Ele e ela que se entendam e não me envolvam. É capaz de surgir um palavrão fora de propósito, ou decidam chamar a Sra. Delicada Poesia para tertius nesta disputa. Eu, hem?!!!

[15:05, 28/02/2025] António Miranda: BOA TARDE!!! Enviada a crônica da semana por e-mail.

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