Para os que estudaram em Curitiba nas décadas de 50 e 60 dos anos dourados.

 [10:31, 04/02/2023] +55 41 9671-5000: Para os que estudaram em Curitiba nas décadas de 50 e 60 dos anos dourados.

Não deixem de ler e relembrar passagens que esse autor revela com tanta saudade desse tempo que se foi!


Fechou a Curitiba onde vivi.

Só não fechou este meu tempo de guri.

A gurizada de hoje não sabe o que é. 

Fechou a Curitiba onde eu vivi. 

Só não fechou este meu tempo de guri.

Viu guria!

Saudade da Curitiba dos meus tempos de guri, das partidas do bete-ombro?

Do jogo de tique, de pular corda e amarelinha riscada de giz na calçada. 

Do jogo de búrico com bolinhas de vidro multicor, fidusca em pó; maria bodó, dos treinos no campinho com as bolas de capotão da Casa Walter.

Saudade do jogo do bafo com as figurinhas das balas Zequinha. 

Tinha Zequinha médico, Zequinha radialista, Zequinha motorista Zequinha Papai Noel (a mais difícil, quase não saía). 

Tinha até Zequinha ladrão. 

As figurinhas embrulhavam aquelas balas ruins, que ninguém chupava, mas que divertiram muito a piazada.

No jogo de Bafo era proibido cuspir na mão. 

Dos balões de São João que iluminavam as noites frias da Curitiba do meu tempo de guri, era balão Caixa, balão Mimosa, balão Cruz, de todos os tamanhos e de todas as formas. 

Tinha uns grandes, tão grandes que até os bombeiros vinham ajudar na hora de acender a tocha. 

Os soldados vinham, erguiam a escada, seguravam a copa, o baloeiro acendia a tocha, o fogo ardia e o balão subia espargindo parafina incandescente sobre a Curitiba dos meus tempos de guri. 

Das raias que esvoaçavam pelos campos da Galícia, éramos felizes os piás de Curitiba.

Espremidos nas calças curtas os piás e as meninas nas saias de sarja azul marinho, toda pregueada, como mandava o uniforme escolar, levavam para a escola um punhado de bolachas Duchen e meia garrafa de Capilé. Às vezes, Crush ou Mirinda. Quando não, um suco de uva Grapette, ou gasosa de framboesa da Cini. Prá variar, Minuano. 

Tinha uns que levavam Bidu-Cola ou Guaraná caçulinha, com bolacha Maria. 

Aos domingos faceiros, terninho de marinheiro da Maison Blanche, iam à matinada do Cine ópera para ver Tom e Jerry. As meninas, gabolas, enfeitadas em suas saias godê da Joclena e blusinhas da Mazer, uma loja infantil ao lado da Gomel, na Praça Tiradentes. 

A Maison Blanche era de meninos, a Joclena e a Mazer, de meninas.

Para os sapatos tinha a Cirandinha. 

Piá nenhum admitia vestir o tal de brim coringa não encolhe, aquele tecido azulão grosso, especialmente para macacão de mecânico, que hoje chamam de jeans. 

As meninas vestiam tafetá ou veludo, também em festas, os vestidos godês feitos de organdi suíço, os meninos, terninhos de casemira. Quando muito, camisa Volta ao Mundo e calça de tergal.

Piás felizes chutando bola, descalços sobre as rosetas dos campinhos por todos os lados.

Esse tempo acabou, assim como acabou a Modelar, a Casa Rosa, a Casa Vermelha a Casa Sede.

Nâo tem mais Casa da Sogra do Aron Ceranko, presidente do ferroviário (que também não existe mais). 

Desapareceu o Louvre do Kalluf. 

Cadê seu Jamil e seu Miguel e a Capital das Modas? 

Não tem mais a casa das Meias do telefone 66-6666, nem o 444 da Barão.

A Casa Edith, acredite ainda tem, mas os chapéus Prada não vendem mais.

E a três Coelhos, em que cartola se meteu? 

Não tem mais Móveis Cimo, já não se houve mais o apito da Fábrica Lucinda, mudou a Casa feres pequena por fora e grande por dentro. 

As Casas Lorusso, suba que o preço desce, também desapareceram.

Fechou a Casa Dico? Fique Rico comprando Dico – A Joalheria Pérola, do kaminski, a Importadora Americana, do Marcos Salomão Axelrud, que vendia o Sinca Chambord e o Sinca Rally. 

E as casas da Uda e da Otília? 

Desapareceram o Frichmann’s Magazine assim como o Chocolate Basgal, da Tiradentes. 

Não tem mais a Tarobá, do Pedro Stier, em cujas vitrines o pioneiro Nagib Chede exibiu primeiro programa de TV do Paraná, projetado diretamente do último andar do edifício Tijucas.

E o povo encantado, via o Jamur em preto e branco, contando notícias do dia. 

Não tem mais o cine Curitiba onde os piás trocavam gibis do Capitão Marvel pelo X-9 do Monte Hale.

Cadê o Cine América, o Palácio, o Broadway, o Avenida, o Ribalta, o Oásis, o Rívoli, o Vitória, o Curitiba, o Marabá, o Luz, o Arlequim, o Ritz. 

Até os filmes do Morguenau e do guarani chegaram ao fim.

Acabaram as matinês do domingo à tarde. Se você aprontava durante a semana lá se ia a matinê de domingo.

Era ficar na janela vendo os amigos irem, com um monte de gibis embaixo do braço.

Lembram que quando o mocinho beijava a mocinha todo mundo fazia barulho com os pés no assoalho de madeira do cinema? 

Não tem mais o bar Pigalle, nem o Massalândia Roma, do seu Francesco D’Angelis, ali na praça Osório. 

E o Lá no Luhm, da Barão? e a Charutaria Liberty, na esquina da XV com Mosenhor Celso, para onde se mudou? 

O Hermes Macedo? do Rio Grande ao Grande Rio? que rumo tomou? 

E o Prosdócimo do “Seo” João?

Não vejo mais as óticas Curitiba, dos irmãos Barbosa. 

Onde foi parar a Casa Nickel, que vendia Chevrolet? 

Desapareceram a Casa Londres e a Ottoni. 

O Lord Magazine, onde se comprava o esporte-fino para ser exibido nos chás- dançantes de Medicina e Engenharia. 

A Slopper também acabou, mesmo fim levaram Calçados Clarrk, Lojas Ika e Pugsley. 

Acabou-se o Café Alvorada do Senadinho, fechou o Ouro Verde, onde nasceu a Boca Maldita. Nem Café Marumby, nem café Piraquara ou café Serimar do J.J. Ramires, têm mais. 

Apagou-se o neon da Caixa Econômica, na Praça Zacarias, com as moedinhas correndo e caindo no cofrinho. 

E a Farmácia Minerva que vendia Zig e Mercúrio-cromo e também pasta Kolynos, creme dental Eucalol e Sabonete Libebuoy. 

Será que ainda existe o talco Ross? e o Rum Creosotado? e Auricedina? e a pomada Minâncora? e o Vinho Reconstituinte Silva Araújo? e o Regulador Xavier: número 1- excesso, número 2 escassez. (E Antissardina o segredo da beleza feminina). E o Creme Rugol. 

E as Pílulas da Vida do Doutor Ross? fazem bem ao fígado de todos nós? nem  Stellfeld do relógio de sol sobrou, com suas prateleiras repletas de Cibalena, Varamon e  Cafiaspirina, Glostora e Gumex.

Só o relógio de sol resistiu, como a testemunhar os meus tempos de guri.

Saudades do time infanto-juvenil do Juventus, o moleque do Batel, do técnico  Tuca, do Sabá, dos Cava, do Tonico, do Paulinho, dos irmãos Popadiuk, do Roberto italiano...

No edifício Azulay ficava o Musical.

Ali também ficava a loja de calçados Pisar Firme. 

A Clark também ficava lá, assim como a farmácia Colombo. 

E o curso w. Abreu, preparatório para Direito? 

E o Curso 19 de Dezembro que não pagava ninguém? 

Fechou o Banco de Curitiba, quebrou o Banestado, e o Bamerindus e os bichos do Paraná?

Cadê o Colégio Parthenon, O Iguassu (pagou, passou!) da Praça Rui Barbosa? 

E o colégio Cajuru? Por andarão as suas alunas, tão bonitas e invejadas? e as meninas do Sion com suas saias cor de vinho? E as normalistas do Instituto de Educação por onde andarão?

Acabaram-se as empadinhas da Cometa e os queijos da Casa da Manteiga. 

No Mercado Municipal tinha Manquinho, da Merceraria Sulina. Só vendia o que era de primeira. Ele mesmo dizia, aqui presunto, se quer mortadela vai em outro.

A coalhada da Schaffer, servida pelo seu Milton, o Toddy da leiteria Viana e o pão sovado da Berberi, em que forno se enfornou? 

Por que não temos mais Milo para beber com leite, era tão gostoso!

E a pastelaria Ton Jan, da Marechal? Tinha pastel de carne e de palmito e também o especial, com ovo e azeitona.

Fechou a Churrascaria Bambu, a Tupã. Até a Caça e Pesca fechou. Alguém se lembra do Mitóca? 

Não tem mais açougue Garmatter e nem Francês.

E o piá de pedra fazendo xixi na frente do Posto Garoto, cresceu? 

E a pérgola na Travessa Oliveira Belo que os Bombeiros mandaram retirar?

Acabou-se o rabo-de-galo do Bar Americano e não tem mais a carne de onça do Buraco do Tatu. Nem o filé completo da Tingui. Nem a dobradinha do restaurante Rio Branco. 

Do pastelzinho do Pasquele, nas manhãs dos sábados no Passeio Público, Restou a saudade.

A Locanda Suiça desapareceu. Até a Gruta Azul sumiu.

O Jatão em Santa Felicidade travou a turbina e caiu. Desmoronou. 

Nem a Maria do Cavaquinho, nem a Gilda, nem o Esmaga, nem o Osvaldinho da Praça Osório, perambulam pelas portas da Velha Adega, na Cruz Machado, ou pela frente do Gogó da Ema Na Comendador.

Por ali onde nadava o Saca-Rolha, nas tardes de sol, com o seu guarda-chuva sempre fechado.

O Bataclã não desfila mais com o seu terno Branco e cravo vermelho na lapela, pela frente do Fontana DI Trevi ou do Guairacá, na João Pessoa que virou Luiz Xavier.

Fechou Curitiba onde eu vivi.

Só não fechou este meu tempo de guri.

Não tem mais Leminski, nem Kolody. Dele resta o lamento: Esta vida é uma viagem; pena eu estar só de passagem.

Dela, um, alento: Para quem viaja ao encontro do sol é sempre madrugada.

De mim, o consolo: Saudade és ressonância de uma cantiga sentida, Que embalando a nossa infância, nos segue por toda a vida.

Curitiba querida DOS BONS TEMPOS, que bom que EU TE VIVÍ !

[14:01, 04/02/2023]

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