SALA DÁLIO ZIPPIN

 

                                    SALA DÁLIO ZIPPIN

“Tragam-me sempre dificuldades. As boas notícias me enfraquecem”

                 (Dálio Zippin)

 

E com esta e outras frases, Dálio Zippin, advogado por 50 anos , criou a primeira Sala da OAB do Brasil.

Pensam que foi fácil? Que foi da noite para o dia?

Vamos à pequena história que tive o prazer de conhecer, juntamente com advogados, promotores,magistrados que até hoje se lembram do bom momento deste visionário.

O Tribunal de Justiça do Paraná era apenas naquele prédio, ao lado da Assembleia Legislativa e, do Palácio Iguaçu. Os Três Poderes em nosso Estado andavam sempre de mãos dadas. Era atravessar a rua e ir à posse de um, ou à palestra de outro, com alegria, com abraço, com respeito aos direitos humanos.

 Dálio Zippin sentia que muitos advogados chegavam do interior para defender uma causa, e muitas vezes perdiam o prazo porque não tinham máquina de escrever e fazer a petição, que deveria ser entregue naquela data.

Assim, com jeito e muita simpatia, conversou nos anos 70 com o Presidente do Tribunal de Justiça, pedindo um espaço para os colegas que vinham de longe e assim, poderiam completar o serviço tão importante para os seus clientes.

Lembro que o Presidente com alegria, deu uma sala no 1º andar daquele imponente prédio e meu pai colocou ali suas máquinas de escrever, seus pacotes de papel e também a secretária nossa do escritório, chamada Nice, para tudo administrar por muitos anos. Depois veio a Pedrina. Duas pioneiras.

Ah! Também pediu uma linha telefônica, e foi prontamente atendido. Ainda daquelas que se falava com a telefonista do Tribunal e ela completava a ligação, sempre para Curitiba. Se era para o interior, passava o valor, e logo o interessado deixava pago.

Sim, tinha um livro de presença, porque Dálio Pai sempre gostou de marcar o momento, as pessoas que ali passavam. Bem como ele fazia em seu escritório, na Rua XV de novembro, no centro da cidade.

Meus irmãos Dálio Filho e Sérgio já formados também em Direito, vez que outra também usavam a Sala dos Advogados, que sempre tinha café, água e balas de todos os sabores trazidas pelo criador desta novidade.

Eu ainda a estudar Direito, mas já a aprender a vida no Fórum, entregava e ia buscar processos; afinal tudo era manual, nada como hoje, até audiências online. E nosso ponto de encontro era todos os dias, naquele espaço que nos recebia com tanto carinho.

Vez que outra eu ia de carro com meu pai até o escritório; menor de idade ainda, adorava ganhar uma carona. E ia aprendendo, em especial Direito de Família, onde meu pai era grande conciliador de casais. E nossa especialidade, Adoção.

Três anos se passaram até que novo Presidente do Tribunal de Justiça viu a importância daquele espaço bancado por um advogado que estava sempre atendendo os que vinham de longe e tinham prazo para entregar petições. Lá estava o ponto de encontro de muitos, até de advogados e partes que diziam logo ir esperar antes da audiência na Sala dos Advogados.

Este bom Presidente resolveu formalizar o espaço, juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil, secção Paraná, denominando Sala da OAB, com secretários, e demais despesas a correr por conta destas instituições.

Estava criada a Primeira Sala da OAB do Brasil!

O modelo foi seguido em todas as comarcas do Paraná e serviu de tema para congressos, convenções, a ponto de existir uma Sala da OAB em todos os Tribunais brasileiros.

Dálio Zippin partiu em 17.10. 1981.

Num belo dia de sol o Tribunal de Justiça e a OAB resolveram homenagear o pioneiro de ideia brilhante, talvez o responsável por muitas causas em andamento, que poderiam parar ou serem arquivadas, caso a defesa não entregasse em tempo a petição.

Foi inaugurada a Sala dos Advogados DÁLIO ZIPPIN!

Orgulho para esta filha que passou mais de 30 anos como assessora jurídica do Tribunal de Justiça, mas visitava todas as tardes aquela sala primeira, para ver se tudo estava em ordem. Em especial, se tinham balas de afeto sempre distribuídas pelo Advogado das Balinhas, como ficou conhecido meu pai.

Hoje, saudade florida, recordação do tempo em que éramos felizes.... e sabíamos!

(Anita Zippin, advogada, jornalista, presidente da Academia de Letras José de Alencar e diretora do Observatório da Cultura Paranaense)

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