O meu anjo mais velho

 O meu anjo mais velho

Elisa Monticelli


“Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você”  (O anjo mais velho, música de O Teatro Mágico)


Há quem ouse diminuir a minha maternidade

E, por acaso, existe mãe pela metade?


Ah, era apenas um amontoado de células…

E você e eu somos o quê senão isso?

É insano medir a humanidade pelo corpo físico

Ser humano é muito mais que isso.


Muitos entre nós passamos e passaremos pela vida sem nunca vivenciar todo o potencial humano que carregamos em nós.

Assim como a semente carrega o potencial da flor

O corpo, ou esse amontoado de células, guarda o potencial humano.

Por isso, com certeza o meu filho, em sua breve existência, passou pela vida com muito mais nobreza do que muito “humano criado”.


Dos braços de Deus ele veio e aos braços do Deus, rapidamente, ele retornou,

sem necessidade de viver os desafios da vida na carne.

Não se perdeu nessa fogueira de vaidades.


Fui mãe por inteiro e não tive um filho pela metade.

Ele só não coube nos meus braços,

não me olhou nos olhos,

não me desafiou com birras,

não pediu meu colo,

não me chamou de mamãe…

Antes disso, seu coração parou

E o meu despedaçou.


Vivi um luto calado, junto das mães esquecidas,

porque nossos filhos nasceram mortos depois de poucos meses de vida.

Curitiba, 7/05/2023

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