DIÁLOGOS

 

DIÁLOGOS

ENGELBERT SCHLÖGEL

JADSON PORTO

INTRODUÇÃO

No final de novembro de 2021 escrevi uma poesia e divulguei a um grupo de amigos. Este texto chegou ao confrade Engelbert Schlögel e me manda uma provocação: “Que tal dialogarmos e convidar os demais integrantes da ALJA a participarem em uma discussão sobre temas diversos, podendo ser em prosa ou em verso”?

Achei intrigante e interessante a provocação e aceitei. Ele em Graz (Áustria) e eu em Macapá (Brasil). Então, diálogos começaram a ser realizados. Gradativamente comentários e contatos foram estabelecidos e expressos, em uma riqueza de manifestações sem a preocupação de ser textos rígidos, mas com uma fluidez de leitura simples e simultaneamente profunda. Capazes de gerar novos diálogos.

E tal comportamento, estimulou a criação da poesia Diálogos”. Ei-la:


DIÁLOGOS

Jadson Porto, 30/11/2021.

Palavras, conversas, troca de conhecimentos

Expressões de ideias, contações de estórias

Pessoas se manifestam em pensamentos

Refletindo, repensando ou resgatando memórias.

Emoções, razões, raciocínios a criar

Ideias, crenças, visões de mundo a elaborar

Entre espaços murados ou sem fronteiras passar

Entre o ouvir, falar e conviver, dialogar.

Por meio da palavra é o seu significado

Processo de conhecimento, uma de suas intenções

Lógicas livres ou histórias em relatos

Com o diálogo sempre há reflexões.

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Durante diálogos, também ocorrem monólogos

Um expõe, outro observa

E no reverso do palratório

Convivências em conversas.

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DIÁLOGO SOBRE O TEMPOS

Macapá, 3:00 AM, domingo, 28 de novembro de 2021. Em mais um momento de insônia, começa a

fluir algumas palavras sobre um tema que me é muito caro: Tempo. Não é a primeira vez que expresso sobre

o assunto, mas este escrito teve duas repercussões diferentes das anteriores. A primeira diz respeito à

percepção que o tempo não necessita de qualquer instrumento para registrá-lo. Ele existe per si. A segunda,

refere-se à sequência de reflexões existentes após a divulgação. Manifestações essas muito diferente do

diálogo outrora tido com a Presidente da Academia de Letras José de Alencar (ALJA), Anitta Zippin.

O texto foi lido pelo confrade Engelbert Schlögel, morador da cidade de Graz (Austria) e propõe a

executar uma série de interações de elaborações de textos temáticos entre os confrades. os textos não

teriam o objetivo de um debate acadêmico. Mas, um diálogo entre escritores, cada um com sua

habilidade e conforto de escrita.

Schlögel, então, sugere iniciar tais diálogos com o texto que produzi. Ei-lo:

O GIRO DA RODA DO TEMPO

Jadson Porto

Gira a roda do tempo

Sem ruídos ou tic-tacs, silenciosamente

Sem cair grãos de areia, nem lentamente

Gira a roda do tempo.

Gira a roda do tempo

Sem perceber, passou o momento ligeiro

Sem alarmes ou abalos de sinos

Sem marcações, cronômetros ou ponteiros.

Passou, chega ou vindo

Gira a roda do tempo

Contínuo, nem sempre sentido

E vai seguindo..., O tempo.

O tempo não precisa de marcações

Ele continua, mesmo com relógios parados

Como também, sem ser registrado.

Para o tempo, não há durações.

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Ao ler esta poesia, o confrade austríaco assim escreve em seguida, sequenciando a conversa:

O TEMPO

Engelbert Schlögel

Há tanto tempo que já não sei mais o que é tempo.

Hoje me perco nas mesmices do trajeto,

Como se nele fosse encontrar,

O que o tempo, só o tempo, pode mostrar.

O tempo de hoje desconstrói a memória.

Não resiste, em nada, ao isolara o homem de sua história.

Mas a ideia de tempo, que de tic-tac nem mais tem,

É dar ao tempo, o tempo que dele desdém.

Mais tempo.

Menos tempo.

Mais tempo.

Menos tempo.

O tempo, na verdade,

Não tem tempo pra perder tempo.

Em seguida, respondo:

REGISTROS DO TEMPO

Jadson Porto

O tempo não se preocupa em se perder

Outros são quem assim se comportam

Quem precisam marcá-lo,

Para rotina e relatos gerar, possam.

A memória não está no tempo

Mas o tempo dela participa

A memória resgata o sentimento

E o tempo nela registra.

O tempo já foi marcado pelo Sol

Grãos de areia e sonorizado por instrumentos

Em objeto analógico, silenciados, mas com alarmes.

De silencioso a sonorizado, são maneiras para ser marcado.

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Outra confrade da ALJA também participa da interlocução e expressa:

MEU TEMPO

Gisele dos Santos Silva

Ah, o tempo!

És tão sutil e abstrato,

convencionado em anos, meses, dias,

horas, minutos, segundos...

Não é visto,

é pouco sentido,

Todavia, é implacável...

Mostra verdades;

sara feridas;

às vezes, até devolve o sentido da vida...

Eis o tempo:

Inimigo invisível.

Companheiro de batalhas.

Amigo de uma jornada, a vida!

Outros confrades se inserem e apresentam seus pensamentos. ocasionando novas dinâmicas à

leitura do tema lançado. Ana DihI, por exemplo, assim expõe sua declinação sobre o Tempo pela crônica,

o seu estilo de contar...:

“O Tempo, maior cicatrizante da alma, deixa marcas dos deslizes que sofremos, nos nossos rostos e

corações,

As ilusões e desilusões são cicatrizes marcantes que revelam nossas vivências, tal qual, nos fala o

espelho.

O Tempo, nos mostra o quanto andamos e por tantos caminhos que passamos, qual viajantes, no final,

trôpegos e cansados!

Envolvidos no Tempo que corre acelerado, ultrapassamos, primaveras, verões, outonos e invernos,

buscando sonhos e a realização deles.

O manto do Tempo, ê abrigo dás despedidas, trazendo a plenitude por passarmos por ele sem poder

contar todas as horas!”.

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Gradativamente, novos escritos são expostos. Sob o título Registro do tempo, a autora do

magnífico texto identifica dois tipos de tempos: um com “t” minúsculo e o outro com “t” maiúsculo. E no

diálogo entre eles, manifestações se expressam. No convívio entre eles, o tempo ali está, seja ele

minúsculo ou maiúsculo. Esta percepção de tempos com “tês” distintos é absolutamente espetacular.

Assim apresenta a autora desta singularidade:

REGISTROS DO TEMPO

Luislinda Valois

E haja tempo/Tempo!

O tempo é o arquivo mais perfeito do Universo. Ele registra implacavelmente todas as mentiras e

verdades sem apagar ou deletar nenhuma delas.

Ah! O tempo não é comandado. Ele sempre está a comandar e ditar as ordens. Por isso ele muda e nos

faz mudar ao seu sabor.

O tempo não muda. O tempo se movimenta e gira para todos os horizontes e a humanidade lhe obedece

compulsoriamente.

Quem é o Senhor de tudo? É o tempo.

Ufa! O tempo disse ao tempo que tudo com Tempo tem tempo; então é só dar tempo ao Tempo.

O nascer, crescer e morrer são fases do tempo na vida da humanidade.

Celebremos o tempo e o Tempo.

Respeitemos e reverenciemos o tempo e o Tempo estará sempre pronto a nos proteger.

O tempo é natureza!

Sejamos Tempo!

Outra percepção evidenciada por outra confrade. Esta, permite que sua sensibilidade sobre a

temática temporal possa ser exposta assim:

DIA A DIA

Alessandra Dossena langendyk,

Dia e noite

Noite e dia

Quem vive na apatia

De um mundo sem poesia?

Alguns dias nos encantam

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Outros, nos espantam

Mas o dia termina

E depois que a noite adentra

Outro dia se levanta

Dia e noite

Noite e dia

Pode até soar utopia

Mas se a noite traz o dia

Eu só guardo alegria.

Sandra Moreira, em sua singularidade, apresenta um tempo que inicia com uma inspiração,

segue em um bailar e, sem concluir, se deixa levar.

Ah! O TEMPO

Cintila e brilha

Goteja já

Onde se eterniza

No segundo

É o encontro verdadeiro

O olhar

O TEMPO

Que não cabe

Que não é possível deter

não nos cabe

É singular

O TEMPO

Trasborda

E por vezes sufoca

Quando não há mais tempo

Para o dizer, o falar

O TEMPO

Então resplandece

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Enternece

Comata

E urge, e grita:

Há vida!

No que pula

E vibra

E brinca

E se diverte

A cada dia

No novo do dia

O TEMPO

Que se perpetua

No indizível do amar

O TEMPO

Cunha na alma:

Não é o lugar onde chegamos

É O CAMINHO POR ONDE ANDAMOS

Guardião das inúmeras possibilidades humanas

O TEMPO

Há sempre algo novo

É precioso

Porque singular

Se deixe levar

O TEMPO

Para um início de diálogo, iniciada em uma ideia lançada por um morador de uma cidade universitária

austríaca, rodeada por montanhas, passa pela esquina da foz do maior rio do mundo com a linha do Equador e

chega ao Sul do Brasil, com interlocutores que gostam de dialogar, a conversa está muito instigante e reflexiva.

Agora, basta ter tempo para aproveitar ao máximo o rumo dos diálogos em construção. Mesmo que seja em

um breve dispor de tempo para se dialogar.

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VENTO

Macapá, 10:00 AM, quarta-feira, 04 de janeiro de 2023. Recebo uma poesia de Luís F. Veríssimo, que

assim se expressava:

Os tristes acham que o vento

geme...

Os alegres acham que ele

canta...

A leveza, a sutileza, a beleza e a sensibilidades expressadas pelo poeta são de uma manifestação ímpar.

Como também, inspira novas poesias.

Após o envio deste canto a outros poetas, um foi composta uma sequência inspiradora de Jadson Porto

e Ana Maria Rangel Dihl, assim construída:

Os enamorados acham que eIe

sussurra...

Os saudosos acham que eIe

entrega mensagens...

Os confortam acham que eIe

abraça

Os imersos acham que eIe

acaricia...

Os leitores acham que eIe

conduz palavras...

Os semeadores acham que eIe

espalha sementes...

Os sensíveis acham que eIe

inspira...

Uns chamam de vento, furacão, brisa...

Mas é pouco percebido

Como Éolo.

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