Não use máscaras - Ariadne Zippin

Não use máscaras - Ariadne Zippin Antes de reclamar, leia o texto Desde que a quarentena começou, eu tentei ficar o máximo em casa. Eu já tinha esse hábito de sair o mínimo possível então não foi uma mudança tão drástica. Precisei sair, por motivos pessoais sérios, e me deparei com um mundo novo ou melhor com um mundo real, infelizmente. O mundo está triste, as pessoas nos olham com medo, como se oferecêssemos algum perigo, que de fato podemos oferecer, mesmo sem saber. As máscaras nos deixam sentir um mundo mais melancólico pois não vemos o sorriso, não vemos o movimento facial e não vemos as pessoas. Parada em uma rua observando o fluxo, me deparei com uma realidade pouco percebida por nós. USAMOS MÁSCARAS O TEMPO TODO mas elas eram invisíveis! Sorrimos quando tristes. Passamos batom para seduzir ou nos colorir e animar. Não queremos que o outro nos veja como realmente somos. Tentamos usar máscaras invisíveis por meio de palavras. Já estamos habituados a isso e nem percebemos. Quando percebemos nos machucamos. O que está deixando o ar pesado e a tristeza é que por um lado estamos sendo obrigados a ver, com os olhos, o que nossa alma sempre soube. Usamos máscaras o dia todo! Entramos em casa, fazemos todo o ritual de descontaminação, mas esquecemos de tirar a máscara virtual. A cada dia que passa, no isolamento, vamos descobrindo mais um pedacinho de nós, tirando um pouquinho dessa máscara, afinal estamos sozinhos. Por um lado, é salutar tirarmos a máscara, mas por outro muitas vezes nos deparamos com alguém no espelho que nem sabemos mais quem é. Aí vem a tristeza ou a depressão ou o medo ou o susto ou a ansiedade ou o nervosismo. Estamos sozinhos em casa com alguém que não conhecemos mais! Vamos as ruas e a sensação de usar a máscara acaba ficando de certa forma até confortável. Não nos preocupamos com o mau hálito, nem com o buço, nem com o sorriso e nem mesmo as palavras. Sorte de quem consegue ver as pessoas por meio do olhar. Desejo que tenhamos coragem para nos despir e tenhamos um mundo com mais máscaras de pano e menos máscaras na alma.

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