D A R I O V E L L O Z O V I V E

 

  D A R I O   V E L L O Z O  V I V E

                                                            Anita Zippin

 

Foi numa das belas noites de luar, que os poetas e escritores foram se encontrar.

Ao redor, livros, gente que produz cultura, presidentes de entidades que estão sempre unidos a preservar o que de bom fizeram nossos antecessores, aproveitar o presente e deixar algumas sementes em livros e idéias para as novas gerações.

E as palavras do belo Manoel ecoaram por mais de hora, num passeio pela fundação das entidades culturais, a iniciar pelo Centro de Letras do Paraná, em 19 de dezembro de 1912, no mesmo dia em que passou a existir a primeira Universidade Federal do Paraná.

Dois livros a serem lançados, por jovens que muito tem a contribuir e um destes, sobre Dario Vellozo, fez com que os   poetas, escritores, trovadores declamassem alguns sonetos, ou lessem alguma matéria maravilhosa deste escritor .

Passeamos pelo tempo, como se estivéssemos em cápsulas e, por mais de hora, nem percebemos que estávamos quase todos em pé.O sorriso e as palavras faziam com que nós ficássemos com o gostinho de Quero Mais.

Fomos idos de 1909, ao Colégio Paranaense onde Dario lecionou;ao Templo das Musas ou Museu Neo-Pitagórico, visitamos familiares dele como os mestres Alcione Vellozo, meu professor de Biologia no Colégio Estadual do Paraná. E também, subimos as escadas da lembrança , ávidos por encontrar o nosso professor Athos Moraes de Castro Vellozo, no curso de Direito da Universidade Federal, a mesma supra citada, mas com aquela eterna escada.

Ao nosso lado, dentre tantas personalidades marcantes, o bisneto e meu colega de Academia de Letras José de Alencar, escritor e poeta Alberto Vellozo. Sim, foi ele quem homenageou a nossa entidade cultural, quando o mestre Maneco parou um pouco em 1939, a contar da fundação deste lugar de cultura, onde tenho a honra de estar na presidência.

Quando a palavra ficou livre, no meio de tanta alegria como se estivéssemos em sala de aulas, pouco importando a idade de cada um, todos jovens a brincar com as letras e as rimas, eu pedi licença.

Contei que aquela menina loirinha de cachos , tão pequena, no meio dos 5000 livros da biblioteca de Dálio Zippin, no Seminário teve ali, a primeira recordação. Era eu, sim quem confundia o nome de meu pai Dálio, com Dario, tal era o nome do escritor usado pelo seu aluno Dálio. Era um mito para nós, naqueles dias e sempre, Dario Vellozo. Além de pensador, poeta, escritor, tinha o dom da cura. E meu Dálio Pai também benzia, dava passes e dirigia o Centro Espírita Anita Zippin , nome de minha avó.

E a noite era uma criança, quando falei algumas palavras ali pronunciadas, tipo “Que noite Linda” e a mais forte que disse Alberto: “Dario não era de carne e osso”.

E eu encerrei as poucas palavras, sentindo no ar muita gente das estrelas a nos observar, dizendo como um dos oradores: “ DARIO VIVE”!

Se terminasse aqui  esta crônica, por certo, os que conheceram este escritor, nem que por palavras tal o tempo que partiu, seria o suficiente para agradecer o bom momento, inesquecível, como se Dario e Dálio estivessem presentes, ao menos em nosso coração.

Mas, veio o sonho logo a seguir, que ouso contar:

Na calada da noite, sonhei que estava num enorme elevador todo transparente, que subia e descia. Alberto de um lado, e eu do outro. No centro, como se uma mesa de cirurgia e nós dois, talvez com um bisturi. Bem na cabeceira daquela cama que não tinha pacientes, tampouco oxigênio, sangue ou gente deitada, estava um homem de terno preto a  nos orientar. Era Dario Vellozo!

E mais uma vez, o elevador subia e descia com muitas risadas e aquele cidadão concentrado a falar para Alberto e para mim, como se estivéssemos a fazer uma incisão.

Acordei impressionada! Pode ter sido emoção, ou energia da noite bela que passei ao lado dos escritores e poetas, todos a reverenciar Dario.

Fiquei um bom tempo de olhos fechados, como que a pedir um pouco de explicação para o meu sonho, que não era pesadelo. Era algo bom , muito bom

Eis que veio  o porquê daquela mesa de cirurgia, toalha branca, Alberto o bisneto e Anita quem sabe a amiga. E a luz mostrou que nós dois, segurávamos canetas, não bisturis. Fazíamos cirurgia com palavras. Também, quem manda unir dois poetas, cronistas, historiadores e também ávidos para contar uma história?

Assim, ganhei uma noite das mais belas ao redor de livros, de gente que adora Cultura , de gente que ama nossa terra, nossa gente e preserva os que vieram para deixar aqui gravada a vida em palavras, livros, como os citados Pompília Lopes dos Santos e um que foi criado naquela biblioteca da minha casa paterna, junto com meus irmão Dálio Filho e Sérgio. Quem? Paulo Leminski, quem me ensinou a colocar os livros nas prateleiras, em ordem alfabética, quando eu acordava. Ele e Sérgio iam à casa principal dormir, depois de terem passado a noite lendo, em especial, estudando aramaico.

Como esquecer das mãos que seguravam as minhas e me ensinavam que o livro tem de ficar em pé, e depois da letra a vem a letra b.? Viva Leminski !

Por isso e muito mais, chego á conclusão:

Para ele, aqui minha palavra livre.

DARIO VELLOZO VIVE!

(Anita Zippin, advogada, jornalista, Presidente da Academia de Letras José de Alencar e diretora do Observatório da Cultura Paranaense)

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