A fala da lagartinha

 A fala da lagartinha

 

                                                                                                               por tonicato mir

                                                                                                           Curitiba, 05.06.2025.

 

 

           Em 10 de novembro de 2025 será inaugurada, em Belém do Pará, na porta da Amazônia Brasileira, a COP30 - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025. — E daí? – perguntariam os pouco preocupados com o clima no planeta. – Nada, digo eu. Mas como já aconteceu na Conferência de Paris, há grandes esperanças dos ecologistas e dos ambientalistas sobre o evento.

 

           Claro que o pessoal do agronegócio ficará preocupado com as emanações e resoluções das cabeças reunidas na conferência. Também aqueles ligados à indústria do petróleo. Esses, porque a Amazônia é o penúltimo sítio inexplorado quanto à exploração do ouro negro. Também ficarão preocupados e atentos os produtores e negociantes da madeira bruta, assim como os exploradores das riquezas minerais.

 

           Eu falei “o penúltimo” local da exploração de petróleo, mas qual seria o último? Não me perguntem. É difícil falar “o último”. Sempre se descobre um sítio novo para se prospectar e cavucar a terra da Terra. Fiquemos com “o penúltimo” e vamos adiante. Não. “Não vamos coisa nenhuma adiante”. Deixemos a Amazônia quieta.

 

           Então lembrei da fábula criada recentemente por mim. A estória fala de conversa de uma lagarta-mãe com sua lagartinha:

 

           — Mãe, posso ir lá fora? – perguntou a lagartinha com quatro centímetros.

 

           A mãe, com doze centímetros e grossura de um dedo polegar de humano, disse:

 

           — Não, filha. Está chovendo muito. Pode cair em sua cabeça muita água de uma folha da castanheira, ou um ouriço carregado de castanhas. Muito perigoso!

 

           — Está certo, mãezinha. Mas é chato ficar aqui no buraco de um velho ouriço.

 

           — Pior se você recebesse uma descarga de folha grande. Mas não de uma castanheira, que está no alto deste ouriço, de uma “Coccoloba gigantifolia”.

 

           — Mãe, o que é isto?

 

           — Filha, é a maior folha do mundo. Ela foi descoberta na Amazônia Brasileira por um pesquisador em 1982. Ela chega a ter a dimensão de 2,50 m de altura e 1,44 m de largura. Já pensou se ela acumulasse água na sua folha e, de repente, despejasse sobre sua cabeça? Você não estaria aqui para minha alegria, minha fofinha.

 

           — Deus nos livre, mãe.

 

           — O pior contou-me sua avó, falando da avó dela, que ouviu da hexa-avó. Disse que ocorreu uma “seca secorosa” nesta Amazônia. Coisa igual ela não vivenciou e não sabe de história sobre isso em ancestrais de lagartas. Foi terrível. Os rios secaram, as árvores murcharam, os insetos morreram. Diz que foi num setembro. Assim, minha lagartinha, não fale mal da chuva. Ela é boa. Pior é a seca esturricando tudo. Fique quietinha que logo o Sol vai brilhar e muita folhinha vai dar para você mastigar.

 

           — Está bem, mãezinha. Mas a chuva é chata, não é mesmo?

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